terça-feira, 5 de outubro de 2010

CENTENÁRIO DA IMPLANTAÇÃO DA REPÚBLICA


Sessão Extraordinária Solene e Comemorativa do
Centenário da Implementação da República
5 de Outubro de 2010

Grupo Municipal do CDS/PP – Anadia



Há na História momentos que marcam a vida dos Estados e dos Povos. A Implantação da República foi um desses momentos.
Comemora-se hoje, dia 5 de Outubro de 2010, o Centenário da Implantação da República.
Relembro que no final do Século XIX, início do Século XX, durante o reinado de D. Carlos, Portugal vivia uma crise económica muito grave e o povo estava cada vez mais insatisfeito. Em 1908, após o assassinato de D. Carlos, sucedeu-lhe seu filho D. Manuel II, que só governou durante dois anos, num período marcado por agitadas revoluções sociais. No meio dessa agitação, surgiu o Partido Republicano, que foi contando com um número cada vez mais elevado de adeptos, que se manifestavam contra a Monarquia. O Partido Republicano afirmava que só uma mudança de regime poderia salvar Portugal.
No dia 4 de Outubro de 1910, Portugal amanheceu com a Revolução Republicana e, no dia seguinte, a 5 de Outubro, foi proclamada a República. A Bandeira Portuguesa mudou de tons, passou a ser vermelha e verde, e o Hino Nacional a “Portuguesa”. Criou-se uma nova moeda, o Escudo, que veio substituir o Real, a moeda da Monarquia.
O ideário republicano, marcado pelas grandes clivagens da viragem para o século XX, assentava num projecto de uma nova cidadania, no caminho para o progresso e para os valores da liberdade, da igualdade, essenciais para um Estado democrático, que permitiriam a todos os cidadãos uma participação efectiva e activa.
Estabelecer um paralelismo entre a República e o presente, não é uma tarefa nem longa, nem árdua. Cem anos depois, Portugal continua a carecer da implementação de valores comuns, como a cidadania, a liberdade, a democracia, valores de unidade, de sensibilidade pelos mais carenciados, valores de justiça e de verdade, valores de boa gestão do erário público, valores que tornam um País mais coeso e forte, projectado para o futuro.
Não resisto em ler um texto de Eça de Queiroz, publicado no primeiro número d’As Farpas, um retrato do país no século XIX, que não é muito diferente do Portugal dos dias que correm:
“O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada, os carácteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Ninguém crê na honestidade dos homens públicos. Alguns agiotas felizes, exploram. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente. O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo. A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências. Diz-se por toda a parte: o país está perdido!”
Portugal atravessa momentos dramáticos e de grande exigência.
Movem-nos, contudo, sentimentos de esperança e a certeza de que está na altura de recomeçar a construção no presente de um futuro, mas de um futuro realista.
Ou começamos a exercer os nossos direitos de cidadania, ou nunca descortinaremos que foi, precisamente, a nossa falta de atenção para as coisas da cidadania, que nos fixou na tradição, irremediável, de sermos o povo pior governado, de entre aqueles com quem gostamos, ao mais alto nível, de nos comparar.
HOJE, tal como há 100 anos!

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